A fritura de Rafael
Roberto Requião tem um estilo próprio para se desvencilhar de algum auxiliar que considera inconveniente. Em vez de demiti-lo, ele cria um subterfúgio para afastá-lo do cargo, quase sempre ancorado através de uma falsa promoção. É o que está acontecendo com o chefe da Casa Civil, Rafael Iatauro. Incomodado com a visibilidade pública do subordinado, o governador achou uma maneira de “despejá-lo” da função. A estratégia: indicar o “amigo” para a presidência da Federação Paranaense de Futebol (FPF). Colou. O secretário, mordido pela mosquinha azul, não percebeu que, por trás da iniciativa, há um evidente processo de fritura política. A fogo brando.
Foi premeditado
Há muito Requião deixa claro a áulicos mais próximos de que desejava encontrar uma “saída digna” para Iatauro. Agora aconteceu. A presidência da FPF é uma isca perfeita, pois, ganhando ou perdendo a eleição, Rafael não terá condições de voltar ao Palácio. Trata-se de uma passagem só de ida. E tchau.
Descarte
A “rifada” que o governador está dando em seu chefe do gabinete civil chega a ser constrangedora. Que Requião não tolera dividir holofotes, tampouco agüenta ver alguém próximo de si “aparecer” é ponto pacífico, mas não deixa de surpreender o tamanho de seu “maquiavelismo”.
Troco
Por outro lado, vale ressaltar que a saída do governo atende também a um anseio secreto de Iatauro. Há indícios de sobra de que o secretário não tolerava mais levar espinafradas públicas e privadas. Apesar disso, a versão oficial é de que a relação entre os dois vai muito bem, et cetera e tal.
Com os ursos
Na prática, contudo, ainda está fresco na memória dos mais atentos observadores políticos o longo tempo que durou a viagem de férias de Rafael. Não consta que um político local tenha passado um período tão extenso afastado do cargo, sobretudo porque o destino escolhido pelo auxiliar foi o gélido Canadá.
Tem mais
Igualmente é fato de que o chefe da Casa Civil só permanece no governo porque deseja ocupar espaço para pavimentar o sonho de ser eleito deputado federal. Assim, se der certo o “plano FPF”, sem peso na consciência, ele poderá deixar o posto no executivo tranqüilo, visto que a vitória para a presidência da Federação garantiria espaço de sobra na mídia. E melhor: tudo isso sem ter que agüentar os destemperos e estripulias do inquilino do Cangüiri.
Projeção eleitoral
É evidente que Iatauro tem chances reais de se eleger para o comando do futebol paranaense. Entretanto, pesa contra ele justamente a proximidade com Requião. O desgaste é gigantesco. O ônus terrível. Parece óbvio que, se estivesse sozinho, suas chances seriam muito maiores, inclusive despontaria como favorito. Hoje não. O fantasma do Roberto assombra tanto que pode pôr tudo a perder.