quinta-feira, 5 de julho de 2007

Falemos um pouco de Pan

Este blog foi criado para falar do futebol paranaense. Porém, já que estamos às vésperas dos Jogos Pan-Americanos, pedimos licença aos poucos - mas assíduos - leitores deste blog para abrir a discussão também sobre esta competição.
Por isso, publicamos aqui um artigo do jornalista Juca Kfouri publicado originalmente no Correio Caros Amigos. Leitura recomendadíssima:
Estamos às portas do Pan
por Juca Kfouri
Do Pan dos desatinos, do orçamento estourado quatro vezes.
Porque, segundo as autoridades, o Rio foi preparado para muito mais, para ser sede da Olimpíadas.Mesmo que não se tenha saneado a baía da Guanabara, a lagoa Rodrigo de Freitas, não se tenha ampliado o metrô nem o transporte de barcas, nada, embora tudo tenha sido prometido. A chance de o Rio ser sede de uma Olimpíada nos próximos 20 anos é zero.
Mas estamos às portas do Pan. Relaxe e goze, pois, como diria o..., como diria a... Afinal, o estupro foi mesmo inevitável. E a gente gostamos de esporte.
Ainda bem que teremos um maravilhoso torneio de futebol no Engenhão, com a Seleção Brasileira...sub-17.
Felizmente os norte-americanos vêm com seu quinto time de basquete, se tanto, e os argentinos, campeões olímpicos, com o terceiro, se tanto. Porque o nosso time de basquete também será o segundo, se tanto, já que nenhum dos nossos que jogam na NBA virão.
A vontade que dá é a de seguir no caminho da ironia. Mas não dá. Porque o que dá é raiva. Raiva da chance que o Brasil desperdiça ao não fazer do Pan uma oportunidade de inclusão social por meio do esporte. Raiva de ver essa cartolagem que nos assola nadar de braçada no dinheiro público e mentir sem pudor.
Houve até quem dissesse (o ministro do Esporte, Orlando Silva) que o planeta estará de olhos voltados para o Rio. Mas na Europa nem se sabe o que é o Pan. E nem mesmo em países como Estados Unidos ou Argentina, que dele participam, a competição desperta qualquer interesse. Quem dirá na Ásia, na África, na Oceania!
O Pan era para ser evento nosso, muito nosso, para estimular essa gente bronzeada a entender o valor da prática esportiva. Uma competição para cidades como Salvador, Recife, Belo Horizonte, Curitiba, Floripa, Porto Alegre, talvez, Brasília. Jamais para o Rio ou São Paulo.
Vamos viver dias, isto sim, de hipocrisia explícita. A TV aberta, sócia do Pan e, portanto, absolutamente acrítica em relação aos seus milhões de pecados, exaltará o ouro dos tolos e criará uma expectativa que tornará os Jogos Olímpicos de Pequim, no ano que vem, palco de grande frustração nacional. Porque os resultados que aqui acontecerão, com raras exceções, se houver, não significarão rigorosamente nada em relação às marcas mundiais.
O Pan, enfim, é um evento menor. Maior torna-se o escândalo do dinheiro nele investido. E as CPIs, tanto municipal, quanto estadual e federal, inevitáveis. Mas devolver o dinheiro do povo que é bom, nem pensar.
Estamos às portas do Pan.
Não é para amá-lo nem deixá-lo, que não somos disso. Mas deveremos cobrá-lo. Até o fim.

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